Apresentamos, abaixo, produções científicas oriundas do trabalho do grupo nos anos de 2020 e 2021.  Algumas são publicações de caráter coletivo, e outras, de autoria de um dos membros separadamente.

 

PUBLICAÇÕES COLETIVAS

Resumos para o XXI Evento de Extensão da UFPB 2020

O projeto de extensão Interouvir, por estar atuando dentro do edital UFPB no seu Município 2020, produziu alguns resumos para participar do XXI ENEX UFPB. Ao todo, foram 3 resumos de bolsistas, 1 resumo de colaboradora e 1 resumo coletivo. Os envios dos bolsistas relataram suas experiências dentro do projeto.

 

O resumo de Wellington de Jesus Souza (bolsista remunerado), “Experiência Extensionista: Relatos sobre o projeto Interouvir”, no qual o discente apresenta sua atuação como bolsista e as adequações que precisaram ser feitas em todo o projeto após o início da pandemia de COVID-19.

 

O resumo de Rômulo Dantas Alexandre (bolsista voluntário), “Interouvir: Experiência como bolsista voluntário em projeto de extensão”, descreve como o seu plano de trabalho funcionou dentro do projeto, buscando estudos documentais relacionados ao campo da ética sonora para servir de escopo teórico para o grupo se preparar para as rodas de debate.

 

O resumo de Deyvison Mendes dos Santos (bolsista voluntário), “Relatos como bolsista na roda de debate Interouvir”, descreveu sua atuação dentro do projeto, que tinha, como objetivos, facilitar o acesso dos cidadãos às rodas de debates coletivos sobre ética sonora em contextos públicos e privados de João Pessoa, constituir um banco de dados com interessados, inscritos, participantes e lista de espera, e ficar responsável pelas atas.

 

O resumo de Patrícia Carla Vasconcelos de França, fonoaudióloga e colabora do LABETS, intintulado “Interouvir: rodas de debate aplicadas à rotina fonoaudiológica", descreveu algumas consonâncias entre o trabalho do grupo e sua rotina como profissional da fonoaudiologia, notadamente a respeito de quadros clínicos de pacientes com deficiência intelectual e/ou múltipla, nos quais o som pode ocasionar o agravamento de sintomas. Menciona também a fonofobia e a hipersensibilidade auditiva, bem como suas possíveis interferências na produtividade profissional e escolar, questões de insônia e cefaleia; a epilepsia, relacionando sons de alta intensidade à precipitação de crises convulsivas); a PAIR - Perda Auditiva Induzida por Ruído; e o baixo rendimento escolar e piora no processo de aprendizagem de pacientes com Transtorno do Espectro Autista.

 

Por fim, o resumo coletivo, de autoria de todos os mencionados anteriormente e a coordenadora do LABETS, intitulado “Rodas de debate Interouvir: relações existentes entre som e poder”, descreveu como essa temática se desenrolou durante as edições das rodas. Assim, foram abordadas questões que englobam denúncias de poluição sonora e perturbação do sossego, bem como sua difícil resolução, os impasses entre fiscalização de artistas sobre o que “pode ou não pode”, relações entre som e poder quando a discussão mais coerente a ser feita deveria passar por um crivo ético, e não de coerção, os problemas acústicos de ordem física que causam conflitos em áreas residenciais e comerciais e alguns privilégios de classe que passam pelo aspecto ético sonoro de forma fundamental, como a delicada diferenciação entre “silêncio” e “silenciamento”.

“Interouvir: rodas de debate sobre ética sonora e  cultura coletiva de som”

 

Além da participação no evento de extensão da UFPB, publicamos um artigo coletivo no primeiro Cuadernos de la RELEM, a Red Latinoamericana de Educación Musical.

 

O trabalho  apresentou de forma sucinta uma discussão e análise dos resultados do projeto-piloto em questão. Foram mencionadas questões delicadas, como a tênue linha que separa o som “necessário” do som “não necessário”, considerando a grande inserção e influência que ele promove em nosso cotidiano. A parte descritiva do artigo é, em grande parte, recapitulativa do que trazemos neste relatório sob os subtítulos “Rodas semanais de debate” e “Lives com especialistas”. O artigo conclui que as conquistas que um debate sobre o som podem nos trazer é feita a passos lentos porque está, entre outras coisas, em contraste com a ausência da frequência e da continuidade dessa discussão no poder público e na iniciativa privada. Por fim, argumenta-se a necessidade da construção do debate de forma coletiva a fim de tornar-se tão cotidiana quanto o som em si.

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PUBLICAÇÕES INDIVIDUAIS

“Em busca de uma cultura coletiva de ética sonora: simbioses físicas e simbólicas” (BASTOS, no prelo)

Em vias de publicação pela Editora da UFRN, é um dos capítulos do livro resultante das II Jornadas de Etnomusicologia Nordeste. O trabalho discorre sobre questões éticas envolvendo escuta, emissão sonora física e simbolismo presente no som, a fim de compreender caminhos simbióticos da práxis social entendida como ética sonora. Tomando como base a crônica “Escutatória” (2012), de Rubem Alves, utiliza-se essa importante ressignificação sensorial e cultural à nossa sociedade dos séculos XX e XXI, que vai de encontro à nossa imersão em ideias bastante específicas de avanço, progresso e produtividade. Como sons que simbolicamente são tão queridos por uns tornam-se um terror do ponto de escuta física dos decibéis? Como abordar o assunto com o interlocutor nessas situações? Quem ressarce a pessoa que foi prejudicada pela poluição sonora e pela perturbação do sossego? Existe culpa? Diante de questões tão espinhosas, a maioria das pessoas e órgãos profissionais orbitam entre questões legislativas – pode / não pode, questões de tolerância – incomoda / não incomoda, de gosto pessoal – belo / feio / barulho / sonoridade ou por questões mais sutis como o sustento de quem está emitindo o som ou a boa imagem de um vizinho que incomoda sonoramente.

 

O texto foi entregue para o editor em maio de 2020, diante de um cenário de de binarismos vivenciados no Brasil e no mundo que foi escancarado pela pandemia de COVID-19. Para muitos, não há opção que não seja arriscar-se pelo sustento. Nunca houve, mas agora, está evidenciado. Assim, procurou-se pontuar questões outras que não compartilham do nível fisiológico da urgência do prato de comida ou, atualmente, da dádiva que é a possibilidade de ficar em casa protegendo-se, mas que desdobram-se em outras séries de mortes tão cruéis e tão necessárias de serem combatidas, como a morte à arte, a morte à ética e a morte à nossa capacidade de nos colocarmos no lugar do outro. Conclui-se que as proposições ético sonoras para o mundo atual que emergem desta discussão estão pautadas no ouvir de modo fundamental a fim de problematizar nossa incapacidade de escuta como “a manifestação mais constante e sutil da nossa arrogância e vaidade” (ALVES, 2012, p. 72).

“Ouvido pensante ou ouvido neurótico? Atuação científica e simbolismo sonoro sob o frame da paisagem sonora” (BASTOS, 2020)

 

Este artigo integra o livro “Poderes do Som: políticas, escutas e identidades”, editado pelo Prof. Dr. José Cláudio S. Castanheira e equipe. É resultado de discussão apresentada durante o I CIPS – Conferência Internacional Poderes do Som, que ocorreu na UFSC em 2018.

 

A proposta foi problematizar a aplicabilidade do legado schaferiano no Brasil a partir da discussão sobre simbolismo sonoro. A reflexão congrega três âmbitos dialógicos, todos abrigados sob o evento The Global Composition 2018 (Dieburg, Alemanha): (1) o artigo Sound, music and symbolism: dimensions to understand sonorous ethics (BASTOS, 2018), no qual esta autora demonstra como a desconexão entre as dimensões física e simbólica da escuta é definidora de nossas ações e entendimentos sobre som; (2) a análise de outras três publicações do evento que questionam a aplicabilidade da obra de Schafer de forma mais incisiva (PARMAR, 2018; TÜLU, 2018) ou apenas em pontos considerados passíveis de revisão (BREHM, 2018); e (3) as plenárias ocorridas diariamente com as três gerações de ecologistas acústicos presentes. Nas considerações e amparada pelos autores que analisei (OBICI, 2008; SANTOS, MENESES, 2010; FELD, 2015).

 

Defende-se que o ideal schaferiano de afinar o mundo é não universal e inadequado especificamente para o contexto brasileiro pelo risco de reforçar surdezes de ordem social e cultural; aponto a inadequação do termo “paisagem sonora” como algo importante a se considerar dentro dos estudos de ecologia acústica; e questiona-se em que termos o “just listen”, de autoria atribuída a Schafer, torna-se um sinônimo de silenciamento. Conclui-se como evidente a urgência de se considerar a escuta como um ato politizado, indo além do trabalho do ecologista acústico e englobando também a atuação do etnomusicólogo com relação a debates atuais da área como a compreensão de dimensões físicas e simbólicas, discussões decoloniais (LÜHNING, TUGNY, 2016; QUEIROZ, 2017), de gênero, e de vítimas físicas e simbólicas de poluição sonora (trauma real, marcas invisíveis).

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“Ressignificações no campo da ecologia acústica: ouvir, compreender, politizar, existir” (BASTOS, 2021)

 

Este ensaio é um capítulo do livro “Estudando o som: 10 anos do Festival Novas Frequênias – um antologia”, organizado pelo produtor cultural e pesquisador musical Chico Dub.

 

Nele, a autora compartilha alguns argumentos sobre a descomunal influência do fenômeno sonoro em nossas vidas e sobre como a nossa capacidade de atuar nele, com ele e sobre ele muitas vezes nos escapa por entre os dedos. No Brasil e no mundo pandêmico, o som tem sido ator de questões econômicas, como o fechamento de casas de show, cinemas e escolas de arte, de questões simbólicas, com crescentes exemplos de pessoas que o utilizam de forma terapêutica ou como ferramenta diante do isolamento ou, ainda, de questões físico-acústicas, como o aumento da quantidade de denúncias de poluição sonora em área residencial.

 

Está conectado à ideia do Festival Novas Frequências no sentido de flertar com outros fenômenos ao extrapolar as ideias hegemônicas do sonoro e englobar elementos que, na verdade, nunca foram extramusicais: o aspecto político, as relações de poder no espaço público, as permissões sonoras, os direitos adquiridos ou negados de forma automática a depender de gênero, classe ou etnia. A esses, já espinhosos por si só e discutidos amplamente nos dias atuais por diversos autores, adiciono outros sobre os quais irei me debruçar aqui, tão polêmicos quanto e não tão desvendados ainda, sobretudo no campo da ecologia acústica, como a confusão entre relativismo e relatividade, a isenção e a diluição da responsabilidade cidadã e algumas considerações específicas com relação ao trabalho do músico.

 

Retomando as questões propostas no início do texto, as considerações apontam a necessidade de uma discussão complementar e não oposta entre a existência do som físico e a subjetividade do som simbólico, acessando implicações e aplicações ético-sonoras (d)na coletividade e conseguindo evocar com mais propriedade a distinção entre silêncio e silenciamento sonoro. Destaca-se também a necessidade de problematização do legado schaferiano e as formas pelas quais ele vem sendo utilizado sobretudo no Brasil, de forma atenta à tendência de absolutismo da moralização e da normatização sonora nela presente, mas também ao perigo de praticarmos uma moralização a partir de um lugar simetricamente contrário. Ante a ineficiência da aplicação dos textos legislativos e a inexistência da preparação social de um profissional que possa agir na situação em favor da compreensão simbólica do conflito, não interessa a quem a vítima recorra, porque o problema vai sempre retornar a ela de forma piorada, agravada pela confusão que geralmente se faz entre propriedade visual e propriedade sonora, medindo-as a partir da mesma régua.

 

Por fim, conclui-se que a consciência sobre uma cultura coletiva de debate e ação sobre os sons e sua influência importante em nossas vidas e nossa sobre eles não está posta, mas se constrói a partir de experiências individuais e reconhecimento coletivo. As proposições rumo à materialidade do debate do som como dimensão socialmente compartilhada serão suscitadas de baixo para cima a partir de uma articulação multidisciplinar entre segmentos sociais, do poder público e de áreas como a música, a ecologia, o direito, a saúde, a geografia, a antropologia e a sociologia, para que se juntem, se reconstituam e se ressignifiquem constantemente os ethos dos conhecimentos humanos, legais e intelectuais.

 

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